No Brasil, 99% dos médicos recém-formados entram no mercado de trabalho sem praticamente nenhuma noção sobre empreendedorismo ou gestão de carreira. Essa realidade foi destacada recentemente por líderes da área de saúde, incluindo o ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), que apontou as graves consequências dessa lacuna na formação dos profissionais de saúde.
A formação médica: uma jornada que ignora o empreendedorismo
Embora algumas faculdades de medicina no Brasil sejam reconhecidas pela excelência na formação técnica e científica, falham em um aspecto crucial: preparar os futuros médicos para gerir suas próprias carreiras. Durante os seis ou sete anos de formação, os estudantes se dedicam a aprender sobre o corpo humano, doenças e tratamentos, mas praticamente não têm contato com disciplinas que envolvam administração, finanças ou empreendedorismo. Isso ocorre em um contexto onde, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), apenas 5% das faculdades oferecem algum tipo de conteúdo relacionado à gestão.
Essa falta de preparo pode ter consequências devastadoras a médio e longo prazo. Muitos médicos se formam com dívidas consideráveis, especialmente aqueles que recorrem ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) para custear seus estudos. De acordo com dados apresentados pelo presidente do Cremeb, há médicos que acumulam dívidas de até 1 milhão de reais ao final da faculdade. Ao sair da universidade, esses profissionais enfrentam a pressão social e pessoal para começar a trabalhar imediatamente, muitas vezes aceitando propostas de trabalho ou sociedades sem a devida análise das condições contratuais e tributárias.
O resultado: endividamento e burnout
O impacto dessa entrada desorganizada no mercado de trabalho pode se tornar um grande problema Em poucos anos, o médico pode se ver preso em um ciclo de endividamento crescente, resultado de compromissos financeiros como financiamento de carros, imóveis e casamento. Além disso, sem um planejamento estratégico, esses profissionais acabam se tornando dependentes dos planos de saúde e de grandes grupos de saúde, que, na busca por redução de custos e aumento da lucratividade, muitas vezes oferecem propostas de remuneração que impedem os profissionais de evoluírem na carreira.
Essa situação cria um ambiente propício ao esgotamento mental e da rotina sócio-familiar. De acordo com a International Stress Management Association (ISMA-BR), cerca de 52% dos médicos brasileiros relatam sintomas de burnout, como exaustão emocional e despersonalização. Esse esgotamento, além de prejudicar a qualidade de vida do profissional, aumenta o risco de erros médicos, o que pode levar a processos judiciais e, consequentemente, agravar ainda mais a situação financeira do médico.

Claúdio Urpia
Formado em Marketing e Branding com pós em Marketing Digital.
Há 27 anos atua como consultor de marketing com foco na área médica já tendo prestado consultoria para mais de 1.000 médicos no decorrer da carreira.